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sábado, 12 de dezembro de 2009

De Aldo Nascimento, para todos os seus alunos.

"Estudar, sabemos, é árduo, porém também transformamos os estudos em uma brincadeira de gincana do conhecimento.
Muitos aceitaram o desafio de eu ser um (risível) obstáculo. Esses não desistem. Quanto mais dificuldades, mais se superaram. Outros, acarinhados pela preguiça, pelo desinteresse, pela falta de vontade, entregaram-se ao descaso, à derrota, esperando de minha parte o relaxamento, a facilitação ou um tipo de corrupção silenciosa que permitisse a aprovação de todos.
Enganaram-se. Há 20 anos, eu leciono e, até hoje, sou um tarado pela sala de aula. Podem falar tudo de mim, tudo, menos que eu não tenho a paixão indomável de lecionar. Já disse: leciono para não morrer. A sala, você viram, foi o espaço onde eu encenei a ordem e a desordem, a lucidez e a loucura, o sério e o cômico; foi o lugar onde sou mais humano, onde rio de mim, de ti, de nós. Mais tarde, após anos lecionando, eu descobri: a sala é o lugar sagrado e profano onde sou quem aprende primeiro.
Assistimos a "Jeca Tatu" para depois anotar três cenas e interpretá-las. Apreciamos "Tapete Vermelho". Refizemos textos. Lemos, mais e mais, interpretamos "O Navio Negreiro". Debruçamos nossos olhos sobre os versos de Cruz e Sousa. Entendemos a letra do Rappa e, no segundo momento, nós relacionamos à poesia de Castro Alves. A gramática só surgiu por causa da produção textual. Lemos "Auto da Compadecida".
Antes, lemos "Auto de São Lourenço" e, entendida a peça de José Anchieta, soubemos que no século 16 o poder da Igreja deformaca a cultura indígena. Lemos poesias. Aprendemos o poder da metáfora por meio do sensível filme "O carteiro e o poeta".
Busquei mostrar a vocês a beleza da cultura popular por meio do caipira, nossa identidade nacional. Lemos sobre o riso em um fragmento de texto do romance "O Nome da Rosa".
Faltei pouco. Falei muito. Repeti mais ainda: anote, anote, anote.
E quantos ótimos alunos o destino apresentou a meus olhos. Jovens humildes, problemas em suas casas, discriminados, mas com um espírito à altura da superação. Diante deles, preciso melhorar sempre. Sempre. São nomes que desejam mais saber. Alunos que sabem contestar. Inquietos.
Se eu pudesse ofertar a cada um de vocês um livro, ofertaria "Fernão Capelo Gaivota", de Richard Bach. Que o voo seja alto para que, quando você mergulhar, busque o peixe no fundo do mar, o melhor. Não se limite a comer o peixe que o pescador lança à superfície das águas. Não comam o que o bando come, porque a beleza da vida não está na superfície e muito menos no que os vulgares fazem. O melhor alimento habita no fundo, lugar onde poucos tocam.
Mas saiba que voar mais alto para chegar ao fundo exige esforço, erros, tentativas, porém é isso que nos eleva à condição de humanos. Supere-se! Seja melhor que seus pais e permita que seus filhos sejam melhores que você.
Navegamos melhores em mares revoltos. Em lagos, onde a água é calma, nada é exigido de nós, a não ser acomodação. Leia narradores que inquietam teus olhos, que perturbem a tua estabilidade. Proust. Lispector. Virgínia. Leminski. Raduan Nassar.
Leia bons livros. Releia-os. Assista a ótimos filmes. Ame as boas amizades, as que exigem de você o melhor de ti. Deixem a TV também no canal Cultura. Namorem para que possam ser melhores do que são. Amem!!! Aprendam que a Paixão não é algo passageiro - há 20 anos, sou apaixonado pelo ato inquietante de lecionar.
Leia Fernando Pessoa. Drummond. Mário Sá-Carneiro. Seja um leitor assíduo da vida. Afaste-se das palavras doentes das ruas. Leia o que eu não li. Obedeçam na hora certa. Desobedeçam na hora incerta. "A desobediência também tem seus direitos", grita André, protagonista de "Lavoura Arcaica".
Um beijo em seus destinos.
Um abraço fraterno em suas vidas.
Sou apaixonado por vocês!!!"
Aldo Nascimento.
Tomei a liberdade de retirar esse texto do blogue dele, na tarde deste sábado.
Obrigada por tudo professor, aprendemos muito com o senhor.

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